23 de novembro de 2008

Evitando Brigas

Quando um casal tem uma discussão violenta, apaixonada, como vimos no último artigo, geralmente o homem é possuído por sua anima e a mulher por seu ânimus. Uma briga deste tipo tem sempre um efeito destrutivo para a relação. Possuídos pela emoção, tanto o marido como a mulher dizem coisas das quais geralmente vão se arrepender mais tarde.
Mas é possível evitar estas brigas? Como evitar uma briga quando a atitude de um dois fere ou ofende o outro? E quando um dos dois faz alguma coisa que é inaceitável na opinião do outro? Devemos aceitar silenciosamente, de forma passiva algo que achamos errado só para preservar a relação? È claro que não é nada disto que estou sugerindo. O que deve ser evitado é a possessão. Mas como se sai de uma possessão? O primeiro passo é querer realmente sair da possessão. Isto exige um esforço consciente de sua parte. Você tem de evita transformar a conversa em um bate boca, e para isto é preciso ter consciência que ninguém vence este tipo de discussão. Ambos saem feridos e indignados, e a relação é sempre prejudicada. A primeira coisa a fazer é desistir da idéia de ganhar o bate-boca. Depois, é preciso saber quando se está possuído pelo ânimus ou pela anima. Para isto preste atenção nos sintomas: se sua voz estiver alterada; se você sempre tiver mais alguma coisa a dizer; se for difícil calar e dar tempo para o outro responder, você está possuído. Pior ainda, se você e o outro estiverem falando ao mesmo tempo, e falando cada vez mais alto, querendo ganhar no grito!
Se você for uma mulher, pode ter certeza que você está possuída por seu ânimus, o homem interior em sua manifestação mais primitiva.
Se você for um homem e se sentir profundamente ferido com as coisas que sua mulher disse, se estiver convencido que ninguém entende você, pode ter certeza que está possuído pela anima, a mulher interior em sua manifestação mais primitiva.
A melhor coisa a fazer nestes momentos é interromper a discussão antes que um dos dois vá longe demais e diga coisas que podem realmente deixar feridas profundas, difíceis de cicatrizar.
Parece fácil, mas não é. Você terá de se controlar quando o sangue subir à cabeça e você quiser responder à altura. Se não resistir, não sai da possessão, e a vida do casal se torna um inferno. Mas se você conseguir realmente escutar, perceberá que, em meio às generalizações e palavras agressivas do outro, há um pedido autêntico de socorro. Talvez haja algo que o outro precisa ou espera de você – e você está surdo. Talvez você precise mudar alguma atitude da qual não tem consciência. Só podemos melhorar uma relação se começamos melhorando a nós mesmos. É preciso ter humildade, para admitir que nem sempre se está com a razão, e ter coragem para mudar. Se conseguirmos evitar possessões, o diálogo se torna um instrumento de aproximação amorosa e reconciliação.

16 de novembro de 2008

Brigas de casal

Todos carregamos uma personagem do sexo oposto dentro de nossa psique. Chamamos de ânima a mulher que cada homem carrega dentro de si e de ânimus o homem que cada mulher traz. È difícil detectar estes dois personagens no dia-a-dia, pois eles influenciam discretamente nosso comportamento. Estão lá, vivos e ativos em nossas psiques, mas sob o controle do ego. Porém em algumas situações excepcionais o ânimus ou a anima podem vir à tona, e mesmo dominar-nos. Durante uma briga de casal, por exemplo. A briga pode começar por uma razão insignificante - um pequeno incidente, ou mal entendido - e ser resolvida sem traumas. Quando, porém, estes incidentes insignificantes levam a um bate boca emocionado e interminável, que vai se tornando mais e mais agressivo e acalorado, o casal, por mais adulto e equilibrado que seja, vai perdendo o auto-controle. Vai cedendo o controle de suas palavras e seus atos ao ânimus, no caso da mulher, e à anima, no caso do homem. Os dois são possuídos por estas forças primitivas.
Quando possuídos por estes arquétipos, ou por uma forte emoção, nossa aparência física se transforma. O tom de voz se altera. A expressão do rosto muda. Perdemos o controle sobre nossas palavras e ações. Gostaríamos de interromper a discussão, mas não conseguimos parar. Se pararmos e tentarmos pensar em outra coisa, a discussão continua rolando em nossa cabeça. Os sintomas são semelhantes aos de uma possessão por espírito. As expressões populares para falar desta possessão mostram que o povo tem consciência desta perda de controle: “Ele estava fora de si” ou “ela perdeu a cabeça” ou ainda “ele estava possuído”. Mas é possível sair de uma possessão? Como se faz isto? O primeiro passo é querer realmente sair da possessão o que exige um esforço consciente de sua parte. Mas isto fica para a próxima semana.

9 de novembro de 2008

O carneiro selvagem

Todos nós temos um carneiro selvagem dentro de nós, podemos reconhecê-lo naqueles momentos em que estamos irritados, nervosos, com vontade de matar quem chegar perto. É comum, nestes momentos, o parceiro chegar querendo carinho e proteção, e levar uma bela patada. A briga começa e surge a fantasia para os dois que chegou o momento da separação definitiva. O mito de Psiquê nos fala sobre isto:
A outra tarefa que Afrodite impôs a Psiquê foi que ela deveria pegar chumaços de lã de ouro dos carneiros selvagens que viviam do outro lado do rio. Psiquê sabia que os carneiros a destroçaria se ela tentasse chegar perto deles, era uma missão impossível. Ela chorou e pensou em se matar.
Podemos comparar a lã de ouro com a necessidade de carinho e proteção; os carneiros selvagens com a raiva, a irritação; e a reação de Psiquê com a sensação de que o relacionamento vai morrer.
Mas, o rio ajudou Psiquê dizendo que ela deveria esperar o sol do meio dia, momento em que os carneiros dormiam, e retirar os chumaços de lã que ficavam presos nos galhos das árvores. E foi o que Psiquê fez.
Esperar o momento em que o outro se acalme para depois receber carinho e proteção, parece algo tão óbvio, mas exige auto controle e paciência.

2 de novembro de 2008

Eros e Psiquê

Quando Psiquê viu que seu relacionamento com Eros havia sido destruído por ela mesma, quando Eros e o castelo desapareceram, Psiquê decidiu agir para salvar sua relação. Foi até o templo de Hera, a deusa do casamento. Ir ao templo de Hera é um gesto simbólico que indica a vontade de oficializar a relação. Quando algumas mulheres percebem que um relacionamento de anos está se esvaziando, que a fase da paixão passou, começam a pressionar o namorado/noivo a marcar a data do casamento, como se isto resolvesse o problema. No mito, Hera disse à Psiquê que não poderia ajudá-la. Na vida real, acontece o mesmo. A posse de um certificado de casamento, um papel que prove que vocês estão “unidos para sempre” não resolve os problemas entre um casal.
Psiquê, então, foi ao templo da deusa mãe, Deméter. Deméter também respondeu à Psiquê que não podia ajudá-la. Casar, ter filhos, pode ser maravilhoso, mas não como solução para uma crise no relacionamento. Deméter disse à Psiquê que, se quisesse recuperar o Amor, deveria ir até o templo de Afrodite. Afinal, Afrodite era a deusa do amor e a mãe de Eros. Ela é quem tinha a chave. Problemas de relacionamento se resolvem através do amor.
Para seguirmos no caminho do amor, devemos consultar Afrodite.
No mito, Afrodite impôs várias tarefas à Psiquê, mostrando assim que o amor tem seu custo, dá trabalho, e exige coragem. A primeira tarefa que impôs foi a de separar uma montanha de grãos de vários cereais diferentes, todos misturados. E esta é a primeira tarefa para quem quer fazer a transição da paixão para o amor. No relacionamento amoroso nos deparamos com um milhão de coisas: hábitos, atitudes perante a vida, educação, família, amigos diferentes, etc, etc. E nos dá um imenso trabalho perceber e respeitar estas diferenças.