31 de maio de 2009

O Homem Aquiles

Uma profecia antiga dizia que os gregos somente venceriam a guerra de Tróia se Aquiles lutasse a seu lado; mas que, se entrasse na guerra, morreria.
Aquiles era filho de uma deusa, Tétis, e de um mortal, Peleu. Quando criança foi mergulhado num rio pela mãe, o que o tornou invulnerável no corpo inteiro, exceto no calcanhar, por onde Tétis o segurara quando mergulhara na água sagrada. A glória no campo de batalha atraía Aquiles, mas a vontade de viver era maior. Quando a Guerra de Tróia estourou, apoiado pela mãe imortal, decidiu fugir do recrutamento. Disfarçou-se de mulher e escondeu-se entre as damas da corte. Quando os líderes gregos chegaram ao castelo onde ele vivia, encontraram apenas um bando de mulheres. Aquiles havia sumido. Desconfiado, Odisseu usou de uma artimanha – mandou tocar o alarme como se a cidade estivesse sendo atacada e, quando uma das donzela, ao invés de esconder-se, correu para as armas, arrancou o véu que cobria a “donzela” e desmascarou Aquiles.
Já no Porto de Áulis Aquiles ficou indignado com Agamenon, que usou seu nome para enganar Ifigênia. Mas a briga entre os dois ficou mais séria quando Aquiles se sentiu injustiçado por Agamenon na divisa de bens provenientes do saque ao templo de Apolo. Discutiram tanto, que Aquiles resolveu retirar a si e seus exércitos da guerra.
Um dia, porém, Aquiles recebeu a notícia de que seu grande amigo Pátroclo havia sido morto pelos troianos e voltou para a guerra, lutando ferozmente e matando um grande número de inimigos, preparando assim a vitória dos gregos.
Porém o herói troiano Paris atingiu com uma flecha o calcanhar de Aquiles, seu único ponto vulnerável, e Aquiles morreu.
O homem Aquiles é aquele que anseia pela glória, pela fama, e vence agindo por impulso. Ele se realiza principalmente em atividades corporais, como a prática do esporte, e aqueles que trazem fama, como cinema, teatro, televisão, etc. Um bom exemplo são os corredores de Fórmula 1, os pilotos de teste, pessoas que arriscam sua vida ou se expõe ao perigos em busca da fama, da perfeição, de correr mais rápido, pular mais alto, fazer algo que nunca foi feito por ninguém.
Ele é leal ao pessoal de sua equipe, a todos aqueles que lhe dão apoio, mas costuma bater de frente com seus superiores, por não querer se submeter a um sistema que ele considera injusto.

17 de maio de 2009

A mulher Atalanta

A mulher Atalanta é aquela perfeitamente capaz de competir em pé de igualdade com os homens, vive focada em sua carreira profissional, e não tem tempo para o lazer e o amor.
Atalanta era uma princesa grega que se deleitava em caçar e vencer seus companheiros de jogo nas corridas que disputavam. Vivia como se fosse continuar jovem, livre e aventureira para sempre. Seu pai, que tinha a esperança de deixar seu reino para um neto, insistia que ela se casasse, mas ela não queria nem pensar nisso. Até que um dia, cedendo a persistência paterna, aceitou a idéia de se casar, mas com a condição de que seu pretendente a vencesse numa corrida.
A mulher Atalanta não está interessada, nem tem tempo para investir em sua vida pessoal. Mas, chega um momento, em que cede as pressões sociais e decide se casar, mas desde que seja com um homem que se mostre mais forte do que ela, não tolera homens fracos. Ela se casa, e seu casamento torna-se uma competição: quem ganha mais, quem é promovido primeiro, quem dá as ordens, etc. O casal não percebe que é necessário que queiram vencer juntos e não um ao outro.
No mito, certo dia, apareceu um jovem príncipe, Hipomenes, no palácio do rei e apaixonou-se por Atalanta. Hipomenes não era tolo. Sabia que não tinha chance alguma de vencê-la na corrida. Sem saber o que fazer, resolveu ir ao templo de Afrodite, a deusa do amor, e pedir sua ajuda.
Afrodite deu três maçãs de ouro a Hipomenes e mandou que aceitasse o desafio de Atalanta. Explicou ao rapaz que, durante a corrida, devia jogar as maçãs, uma por vez, no caminho de sua amada.
Hipomenes jogou a primeira maçã, Atalanta não resistiu, deu uma parada, pegou a maçã, e viu sua própria imagem refletida no metal polido, percebeu que estava envelhecendo. Ele jogou a segunda maçã, e nela Atalanta viu a imagem de um antigo namorado. Quando Hipomenes jogou a terceira maçã, ela sabia que se parasse para pega-la, ela perderia corrida. Não resistiu a curiosidade, e viu na maçã a imagem de uma criança.
A mulher Atalanta para se realizar na vida pessoal, precisa perceber a importância de aproveitar a vida enquanto é tempo. Ela precisa renunciar a vencer a corrida, perceber que nem tudo na vida é uma competição, e que amar e ser amada também é muito importante.
Na corrida do dia a dia, a mulher Atalanta desaprende a ser criança, ao relaxar sente-se culpada, pois poderia estar fazendo algo útil. Obcecada pela questão “o que devo fazer?” ela esquece de se perguntar “o que quero fazer”

10 de maio de 2009

Deuses x Mortais

Ifigênia é sacrificada pelo próprio pai, Agamenon; este, por sua vez, é assassinado pela esposa Clitmenestra; Orestes, o filho do casal, mata a mãe para vingar o assassinato do pai - não surpreende que minha amiga Rosa mande um e.mail perguntando se isto é mitologia ou tragédia grega. Sim, Rosa, bem observado - isto é tragédia grega. Ou pelo menos o material utilizado por Sófocles e Eurípedes para escrever suas tragédias. Uma pessoa menos culta que Rosa teria falado de “novela mexicana”. O pior é que isto, esta violência em família, este derramamento de seu próprio sangue, acontecia na Grécia Antiga e continua acontecendo nos dias de hoje – basta assistir ao noticiário das oito ou a algum programa do tipo “Cidade Alerta” para nos convencermos disto. E, no ambiente protegido de um consultório de terapia, ouvimos histórias parecidas, porém nas quais o “sacrifício” de filhas e filhos, o “assassinato” de maridos ou esposas, se dá a nível simbólico. Mais frequentemente do que eu gostaria de admitir.
Esta tragédia vem nos mostrar o perigo de nos dedicarmos exclusivamente a busca de status, crescimento financeiro, poder, e esquecermos de cuidar de nossa vida pessoal, de nossos sentimentos, e das relações com aqueles que nos são próximos.
Gostaria porém de tranqüilizar minhas leitoras, chocadas com tanta violência – muitas histórias que pretendo contar têm final feliz.
Rosa também me pergunta qual a diferença simbólica entre deuses e mortais no mito grego. A resposta é complicada, já que o culto dos antepassados, o culto dos heróis e o culto dos deuses se misturavam na cultura grega. Mas, de um modo geral, os deuses tem um significado mais universal. Por exemplo, a deusa Core é a representação do que ocorre (a nível simbólico) com toda mulher na adolescência. Já Ifigênia também é uma adolescente, mas sua história é menos abrangente: o que acontece a Ifigênia só pode acontecer a uma menina cujo pai sacrifique a família em prol de seu próprio engrandecimento. Core, além disto, é emocionalmente mais ligada à mãe (um comportamento “natural” de identificação), enquanto Ifigênia é uma “filha do pai” em uma família na qual a mãe apenas aceita passivamente todas decisões tomadas pelo pai. Clitmenestra acabou se revoltando, é verdade, mas já era tarde demais, e Ifigênia estava morta.

3 de maio de 2009

Mulher Clitmenestra

A mortal Clitmnestra e a deusa Hera tem muito em comum. Ambas se casaram com reis poderosos. Da mesma maneira a mulher Clitmnestra e a mulher Hera na vida real são atraídas, e frequentemente casam com homens em posição de poder: empresários, comerciantes, profissionais bem sucedido, políticos. Casam com homens poderosos porque são eles que podem oferecer a elas um reino. Quando se casam com um homem que não ocupa nenhuma função importante, elas reconhecem nele o potencial para adquirir status e crescimento financeiro. Juntos criam um reino: compram casa, carros, constroem um patrimônio.
Tanto Hera quanto Clitmnestra infelizmente foram traídas pelos maridos. Mas, enquanto Zeus traía Hera com suas amantes, Clitmnestra foi traída de forma muito mais cruel quando Agamenon a enganou e fez sacrificar a filha Ifigênia. O destino de Clitmnestra foi muito mais trágico do que o de Hera para se vingar do marido pelo assassinato de sua filha Ifigênia, Clitmnestra além de se ligar a um amante, assassinou Agamenon, assim que ele voltou de Tróia. Seu final foi igualmente trágico – morreu assassinada pelo seu filho Orestes.
A mulher que leva dentro de si o arquétipo de Clitmnestra pode se sentir traída pelo marido quando este “mata” os filhos, isto é, é um pai omisso, ausente, causando danos psicológicos profundos na psique dos filhos. Muitas vezes, os homens poderosos negligenciam sua família por que os negócios, as viagens, os compromissos, não lhe deixam tempo para dedicar a família. A mulher Clitmnestra pode “matar” o marido dentro dela, desenvolver uma indiferença, hostilidade, e mesmo ódio ao homem com quem se casou, muitas vezes, por amor. Este é o perigo que ronda o homem Agamenon, o de sacrificar seus sentimentos (Ifigênia), seu lado feminino (Clitmnestra), e se destruir neste processo.