25 de setembro de 2010

Sonhos - espiritualidade

Eliana contou o seguinte sonho: “Meu amigo fotógrafo levou-me a um outro país na América do Sul, não sei qual deles. Caminhávamos por ruas escuras e ao longe víamos a cidade. As mansões e os prédios eram brancos, alguns telhados eram semelhantes as catedrais góticas. Chegamos numa casa, uma mãe de santo pediu-me para ajudá-la num trabalho de Candomblé. Mexi em algo que estava dentro de uma bacia, mas eu não estava muito interessada no ritual, eu queria voltar para o meu trabalho.”

Viajar a um país desconhecido, nos sonhos, indica que o sonhador está num processo de autoconhecimento. Nesse processo, Eliana continua tendo uma atitude passiva, ela mexe na bacia porque a mãe de santo quer e não porque deseja participar do ritual.

Há mulheres sedutoras, que vêem o sexo como um instrumento de poder, ela domina e o homem é dominado. No caso de Eliana, ela era sedutora porque acreditava que era isso que os homens esperavam dela, procurava realizar os desejos deles, sem se importar consigo mesma.

O sonho da semana passada revelava que por trás de sua ânsia sexual havia uma necessidade de encontrar um caminho espiritual, e que ela poderia encontrá-lo na arte. Esse sonho revelava que sua busca espiritual não era através de uma religião patriarcal (catedral), nem de uma matriarcal (Candomblé) e sim através do seu trabalho. Eliana tinha se formado na faculdade de Psicologia, e estava começando a atender seus primeiros pacientes; o sonho indicava que ela estava no caminho certo.

18 de setembro de 2010

Sonhos - sexo

Eliana, 21 anos, era sedutora e facilmente levava os homens para a cama, mas sentia falta de um verdadeiro amor. Ela contou o seguinte sonho:

“Eu entrei na casa de um amigo, ele me pediu para tirar as calcinhas e eu tirei, mas continuei vestida. Eu ouvia uma música clássica divina. Fui até a sacada. O céu estava totalmente nublado. É como eu me sinto: totalmente cinza. De repente as nuvens foram se afastando, formando um círculo azul e no meio do círculo formou-se uma catedral gótica. Fiquei extasiada com a beleza do céu, da catedral e da música.”

As associações que Eliana fez com o sonho foram as seguintes: “Esse meu amigo é fotógrafo e entende muito de música, nós ficamos juntos de vez em quando. O que me deixou extasiada foi a beleza da arquitetura da catedral, e não o fato de ser um templo religioso”

A atitude de Eliana no sonho era passiva, o amigo pede para ela tirar as calcinhas e ela obedece. Isso revelava que Eliana fazia sexo apenas para agradar os homens, não porque realmente desejava, e isso a deixava triste.

Por trás dessa aparente ânsia sexual de Eliana havia uma necessidade de viver um verdadeiro êxtase místico, o qual ela poderia encontrar na arte.

11 de setembro de 2010

Sonhos - ponte

Dona Rosália, 65 anos, contou o seguinte:

“Quando minha filha caçula estava para nascer, o médico precisou tirá-la a ferro, ele chegou a perguntar para o meu marido quem ele deveria salvar, eu ou a menina. Naquela noite sonhei que estava passando por uma ponte e cai na água. Eu não sei nadar, mas me mexi tanto que consegui voltar para a margem onde eu estava no começo. Acordei com a voz do médico dizendo que eu estava fora de perigo. Esta noite eu sonhei que estava numa ponte, só que não cai, quando vi eu já tinha atravessado a ponte.”

Dona Rosália estava com câncer, o tumor já havia invadido todo o aparelho digestivo. Nesse contexto a ponte representava a passagem dessa vida para outra, a morte, e o sonho indicava que Dona Rosália iria fazer essa passagem com tranqüilidade.

Mas, nem sempre a ponte, no sonho, simboliza a morte, por exemplo:

Alice, 18 anos, sonhou que estava numa festa com seus irmãos, na casa da praia. Estava sol e estavam curtindo a piscina. Mudou a cena. Ela e seus irmãos foram para um castelo, passaram por uma ponte sobre um fosso, conforme iam passando a ponte ia caindo. Eles chegaram no castelo, mas faltava sua mãe. Alice pensou: eu sou jovem, sou capaz de pular se faltar algum trecho da ponte, mas minha mãe é mais velha, não vai conseguir, preciso ajudá-la, vou voltar. Neste momento sua mãe apareceu no castelo toda produzida, e ela ficou feliz.

Nesse caso não faz sentido interpretarmos a ponte como a morte, (a família inteira iria morrer!?) e sim como a ligação entre o mundo exterior e o mundo interior. Alice sentia que tudo o que vinha do mundo lá fora era perigoso, e via como única saída viver apenas em função da família.

4 de setembro de 2010

Sonhos - balanço

“Um criminoso internacional que já tinha assassinado dez ou doze pessoas, um tipo de criatura patológica que cometia assassinatos a sangue-frio sem a menor reação da consciência, matou um velho desconhecido numa rua de Zurique, pegou seu dinheiro e foi preso. O Dr. Guggenbuhl-Craig foi indicado para dar à corte a opinião de um especialista em psiquiatria, apurando se o homem era responsável ou não por seus atos. O Dr. Guggenbuhl teve a idéia inteligente de investigar os sonhos desse homem, contando-os a mim a ao Dr. Riklin, sem mencionar a história completa. Ele simplesmente nos perguntou o que achávamos de um homem de quarenta anos que tinha tido tais sonhos. Naturalmente eu não sabia que o sonhador era um assassino patológico, mas disse literalmente: “Largue mão, deixe esse homem em paz, ele é uma alma perdida”. O sonho em questão era muito simples e se repetia com freqüência; nesse sonho o assassino ia a um parque de diversões onde havia enormes balanços. Ele estava num tal balanço, balançando para cima e para baixo, cada vez mais alto, quando de repente o balanço subiu demais e ele caiu no espaço vazio. Este era o fim do sonho.

Eu pensei: “Meu Deus, balançar entre os opostos, como se fosse um prazer, sem nenhuma reação, achando que é brincadeira!” E a lisis, na sentença final do sonho, era: “caindo no espaço vazio”, sem ao menos a reação de “então acordei com um grito”. Não havia reação emocional. Eu só poderia dizer que esta era uma alma perdida. Eu senti, visando uma imagem pictórica, como se Deus tivesse dado sua alma por perdida. Não existe no sonho nenhuma tentativa, por parte da natureza, de salva-lo através de um choque.”

A primeira vez que li essa interpretação de Marie Louise von Franz fiquei muito impressionada, depois, na minha experiência profissional pude constatar que os sonhos podem nos dar o diagnóstico da pessoa.