24 de setembro de 2011

Sonhos - Crítica


Gleide contou o seguinte sonho: “Era noite escura. Eu caminhava por uma rua estreita. O caminho ia estreitando-se cada vez mais. Eu tive que arrastar-me para conseguir passar. Uma voz falou que este caminho era a Crítica. Sei que sai do outro lado, mas não vi nitidamente onde cheguei. Ouvi cantos de pássaros.”
O irmão de Gleide havia sido demitido, e ela, como sempre, não parava de criticá-lo por ser irresponsável. Ela vivia preocupada com os sobrinhos, pressionando-os para estudarem. Ela acreditava que “pegar no pé deles” era a melhor forma de ajudá-los a superar a pobreza.
O sonho dizia que o excesso de Crítica era um caminho muito estreito, isto é, restringia suas potencialidades e possibilidades de encontrar novos rumos para a sua vida. No final do sonho ela escapa e ouve cantos de pássaros, indicando que ela era capaz de mudar de atitude perante a vida.

17 de setembro de 2011

Sonho - guerra


Gleide sonhou que estava numa guerra; um amigo a puxou para ela esconder-se. Militares passaram bem perto dela, mas não a mataram.
A vida de Gleide sempre fora uma guerra: nasceu num bairro pobre, onde o perigo da violência estava sempre presente, teve que lutar contra a miséria e principalmente contra o preconceito por ser mulher e mulata. Assim ela vestiu uma armadura para enfrentar o campo de batalha. Mas, no sonho ela sente-se perdida, precisa da ajuda de um amigo para esconder-se, indicando que por trás da máscara de grande profissional havia uma menina desorientada, precisando de ajuda para escapar das armadilhas que a vida lhe impôs.
Nesse processo, ela corria o perigo de militares a matarem, o que simbolicamente representava o perigo dela tornar-se uma pessoa inflexível e rígida. E, realmente, ela era séria demais para dar uma risada. Precisava soltar-se e enxergar o valor das tolices, começar a rir de suas próprias dificuldades, aprender a desfrutar as coisas simples e apenas acompanhar o fluxo da vida.

10 de setembro de 2011

Sonhos - serpente


O segundo sonho de Gleide foi o seguinte: “Eu estava preparando um grande evento. Vi um poço, olhei dentro dele e vi uma serpente imensa. Fiquei apavorada. Contei para o meu tio e ele controlou a serpente com tranqüilidade.”
A serpente lembra um falo e também está associada a terra, sendo assim é um símbolo do masculino e do feminino.
O sonho indicava que Gleide precisava encarar seu poder masculino, incorporar seu papel de gerente, aprender a lidar com as intrigas de poder na empresa e também desenvolver sua feminilidade. Uma tarefa nada fácil, pois Gleide era filha de mãe solteira; na ausência do pai, sua mãe foi obrigada a assumir o papel masculino e Gleide não tinha nela um modelo feminino.
Gleide também teve de desempenhar um papel masculino, começando a trabalhar aos 15 anos, investindo nos seus estudos, e isto salvou sua vida, tirando-a da miséria, da mesma maneira que, no sonho, o tio a salvou da serpente.
A questão era que Gleide estava distante de seus sentimentos e instintos femininos, fazia do trabalho sua “única” fonte de realização. 

3 de setembro de 2011

Sonhos - carro


Gleide, 50 anos, procurou-me porque havia sido pro movida a gerente e queria desenvolver sua capacidade de liderança.
Vestida com um terninho marrom, quase da mesma cor de sua pele, dava-me a impressão de querer ser invisível e sua postura a de estar vestida com uma armadura.
Nas sessões seguintes ficou claro o seu desejo de controlar, na tentativa de tornar sua vida mais segura. Junto com o controle, no entanto, vinha uma dose exagerada de responsabilidades, deveres e a sensação de exaustão.
Essa necessidade de controle era devido ao medo do irracional e portanto, o eliminava tanto quanto possível de sua vida. O irracional era associado com o tornar-se alcoólatra e irresponsável, como acontecera com seu único irmão. Com isto, ela se sentia alienada da espontaneidade e do inesperado, que são, justamente, os elementos que dão sabor e encanto à vida.
O seu primeiro sonho foi o seguinte: “Estava procurando o meu carro e não conseguia encontrá-lo. Eu não tinha certeza se alguém havia roubado, ou se eu não lembrava onde havia estacionado. Cheguei em frente a casa onde eu morava na minha infância e vi que a casa havia sido demolida, só havia o terreno. Fiquei contente, porque assim eu poderia construir uma nova casa da minha maneira”.
O sonho era promissor. Ela estava procurando seu carro, isto é, uma maneira de dirigir sua própria vida. No processo ela teria de despedir-se do seu passado, período mais difícil de sua vida, e reconstruir sua história.